sábado, 29 de junho de 2013

Entrevista de um repórter

Era uma vez um repórter de uma revista do Sul que foi ao Nordeste à procura de matéria. E quando viajava pelo agreste desolado pela seca avistou, a poucos metros da estrada, uma árvore verdejante: era um juazeiro.
          Resolveu parar o carro e entrevistá-lo:
          Repórter: Como você consegue, num lugar tão árido, manter-se tão verde?
          Juazeiro: Aprendi desde pequeno que a natureza só ama os fortes, e em face disso procurei aprofundar minhas raízes para ir buscar a seiva úmida da terra em grande profundidade.
          Repórter: Do que você mais gosta?
          Juazeiro: De quando chegam as chuvas. As demais árvores ficam verdes. Os animais pastam as remagens dos campos e os pássaros entoam lindas melodias. Gosto de ouvir o canto dos pássaros e de sentir o perfume das flores silvestres.
           Repórter: As pessoas costumam se comunicar com você?
           Juazeiro: Sim. De regra, em pensamento. Quando passam na estrada ficam admirando minha formosura e tecem elogios. Algumas vêm até aqui e me abraçam.Sabem amar as árvores.
           Repórter: Há muita gente que ama árvore?
           Juazeiro: Certamente. Outro dia uma jovem ficou muito tempo me abraçando. Dei à ela muita energia e ela saiu feliz. Mas recebi também muita energia. Muito amor. E o amor é, sem dúvida, a maior energia de todo o universo. Deus é amor.
           Mas tem aqueles que querem me tatuar. Escrevem no meu corpo seus nomes. Um casal de namorados deixou esses dois corações que você vê. Suporto com resignação e até gosto.
           Repórter: Você tem esperança?
           Juazeiro: A esperança nunca pode morrer. É ela que me faz atravessar o período de estiagem sem desvanecer à espera das chuvas que ocorrem a partir de outubro. É ela que me deixa verde enquanto tudo está se esvaindo.
           Repórter: Você se acha importante?
           Juazeiro: Não. Mas fico feliz quando me dão importância. Aqui no Nordeste tem duas cidades com o meu nome. Uma no Ceará, onde viveu o Padre Cícero, outra na Bahia, à margem do rio São Francisco. E Luiz Gonzaga veio aqui com sua sanfona me perguntar onde andava o seu amor. Minha importância é unicamente saber servir. Sem isso ninguém é importante.  
           Repórter: Servir como? Como é possível servir?
           Juazeiro: Todos têm, diariamente, a oportunidade de servir. Eu dou minha sombra e nos meus galhos os pássaros fazem seus ninhos. Minhas folhas são levadas para a fabricação de shampoo, pasta de dente e sabonete. Mas não é só. Transmito entusiasmo, confiança e fé. Quando as pessoas passam na estrada, ao me ferem sempre verde, nessa paisagem desoladora, abrem seus corações.
           Repórter: Você é feliz?
           Juazeiro: Muito. A felicidade está dentro de cada um. Você precisa se sentir feliz observando as coisas boas em volta de si. E há muitas.
           Reporter: Você tem medo?
           Juazeiro: Tenho. O medo é inerente aos seres vivos, animais e vegetais. Tenho medo de tempestade e de moto-serra. Há quem nos corte em pedaços e nos ateiam fogo. Acho horrível as queimadas.
           Repórter: Que conselho você daria aos homens?
           Juazeiro: Respeitar a natureza. O homem quando destrói as árvores está destruindo a si próprio. O oxigênio tão necessário à vida escasseia. A temperatura do globo aumenta e as geleiras dos polos se derretem fazendo com que os mares invadam os continentes. Tudo isso é muito triste!
           Repórter: Obrigado, Juazeiro. Leia na "Vejam-se" da semana que vem a reportagem.