terça-feira, 17 de setembro de 2013

Não inveje o rico

A felicidade não está na polpuda conta bancária do rico. Não está também na mansão ou no carrão que, com motorista, o leva de um lugar para outro. Ela pode estar num envelope de pagamento, proveniente de um mês de labor da fábrica, na casa simples, no veículo gol, com cinco anos de uso, para passeios aos domingos com a mulher e os filhos.
        Não adianta procurá-la. Quanto mais a procuramos, mais ela se afasta. Ela é um estado de espírito, de alma. Se tivermos de bem com Deus e com nós mesmos, seremos felizes. Eu poderia descrevê-la como sendo o sorriso, a alegria, a ausência de medo, de preocupações. A confiança em nós mesmos, o amor, a esperança.
         Fui advogado de muitos homens ricos. E, invejei, apenas, a vida de um deles. A vida do Luiz Cláudio. Ele havia, com pouco dinheiro, montado uma transportadora e pelo sistema "leasing" já estava com mais de trinta carretas rodando nas estradas do Brasil.
         Tinha também três concessionárias de veículos e uma bela mansão num bairro chique de São Paulo. Mulher bonita, muito bonita, com a cara da boneca Barbi e duas crianças adoráveis.
         Eu também estava bem de vida. Morava num apartamento luxuoso no bairro Paraíso, na capital paulista, mas vivia só, não tinha mulher, nem filhos. Também não tinha a fortuna que o Luiz Cláudio havia conseguido em menos de dez anos. Ele era, para mim, um exemplo de sucesso. Um homem feliz. Portanto, eu o invejava.
         Mas, certa noite, por volta das 23h, tocou o interfone. Era o porteiro do prédio. Disse: "Doutor, tem aqui um senhor de nome Luiz Cláudio que deseja falar-lhe". Certifiquei se era ele, o grande empresário, e mandei que subisse. Tão logo sentou, foi dizendo: "Doutor Moura, vim dormir aqui no seu apartamento. Não procurei hotel porque preciso de alguém para ouvir os meus problemas e também porque não quero estar só; posso me suicidar".
          A situação era grave: infelicidade conjugal. O Luiz Cláudio queixou-se da esposa. Só queria viver em boates, em festas. Ele já não aguentava o rítimo dela. Era empresário, tinha muita responsabilidade e precisava chegar cedo no trabalho. Certo é que apenas seis meses se passaram e fui procurado novamente; mas, para o divórcio. Passei a não ter inveja de nenhum homem rico.