quinta-feira, 8 de novembro de 2018

CARTA DA NORDESTINA AO PRESIDENTE

Senhor Presidente Bolsonaro

Sou a Maria, do município de Guaribas, no Piauí. Escrevo-lhe para contar nosso padecer e pedir providências. De há muito que venho sofrendo neste sertão nordestino. Não tive a felicidade de ir para São Paulo, como muitos daqui. Casei-me com o João, da Pedra Preta e com ele tive sete filhos, mas só três vingaram. Os outros quatro morreram de fraqueza, antes dos doze anos de idade. Meu marido João foi para São Paulo, dizendo que vinha nos buscar, mas que nada, ficou por lá, já está fazendo dez anos. Só uma carta escreveu, dizendo que estava morando na favela Heliópolis. Se o senhor encontrar ele, diga que estamos com saudade. 

Vivo com meus filhos numa pequena casa de taipa de um cômodo só. Não temos camas. Dormimos nas esteiras e meu travesseiro é uma pedra. Só tem uma rede que está furada, mas serve para os meninos balançar. Nosso fogão é de lenha. Graças a Deus temos um jumento e, com ele, vamos buscar lenha no mato e água no poço do seu Manoel, trazendo nas pipas. 

A comida é pouca. Só feijão com farinha e, quando dá, compro pés de galinha e pescoço. As crianças adoram. Para sobremesa, rapadura. Também para adoçar o café. Quando tem, claro. Apesar de tudo somos felizes. Não votei no Lula, nem naquele Hadad. Sabe porque? Lançou aqui um tal programa "Fome Zero" que ficou só no ensaio. Aqui está tudo igual. Mas, Senhor Presidente, tive, com sua eleição, uma grande esperança. É como se Deus tivesse mandado chuva para o nosso sertão. 

Dizem, por aqui, que o senhor vai mandar tirar o sal da água do mar, usando a técnica do país onde Jesus nasceu, e irrigar as terras do Nordeste. Dizem que vai haver grande fartura; que vai ter muita fruta e que as cabras vão dar muito leite. Que bom! Quem sabe vou realizar o meu sonho: ter um sítio para plantar. 

Mas sabe, Senhor Presidente, não precisa trazer a água do mar. Não muito distante daqui tem uma cidade que se chama Cristino Castro, que tem um poço de água jorrando dia e noite. Dizem que tem um mar de água doce embaixo do nosso sertão. É só furar poços. Então! Mande o seu Exército, Senhor Capitão, furar poços aqui no nosso sertão!

Por hoje é só. Que Deus lhe cure logo da facada. Abraço meu e dos meninos.

MARIA DE GUARIBAS 


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